EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA: novos paradigmas da organização pessoal

Na semana passada iniciamos uma série de postagens sobre os novos paradigmas da organização pessoal frente às questões que nos estão sendo impostas durante esse período de quarentena. Nosso primeiro tema foi Minimalismo e o tema desta semana é a adaptação à EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA.

Antes de começar, acredito que é importante eu esclarecer que inicialmente eu não era uma incentivadora da EaD (Educação à Distância). Pelo contrário: participei de discussões pela não implementação da mesma nas faculdades em que estudei. Mas, a terra gira e, de quebra, gosta de dar bons tapas na nossa cara: quando professora pude conhecer melhor a capacidade da EaD de se espalhar e chegar nos mais diversos lugares possíveis – onde a educação presencial possivelmente jamais chegaria – e atingir públicos sedentos por conhecimento, mas que normalmente teriam pouco (ou nenhum) acesso na modalidade presencial. Isso me fez entender o papel desta modalidade e compreender que, com uma equipe bem formada, a EaD pode ser (e é) uma ótima opção para diversos estudantes.

Posteriormente, também tive a oportunidade de fazer parte de uma das melhores equipes de EaD do país (sem falsa modéstia aqui!), onde fui professora e coordenei o Estágio e o TCC de dois cursos da instituição. Por fim, ainda fui aluna de vários cursos livres e de uma pós-graduação na modalidade à distância.

Esclareço tudo isso pois entendo que a EaD precisa ser compreendida para ser desmistificada: geralmente é preciso ver (e entender) para crer. Hoje sou uma grande incentivadora desta modalidade e trabalho ajudando pessoas a se adaptar ao método de ensino.

Nas últimas semanas, muito se falou sobre esse tema – principalmente no estado do Paraná – onde o governo estadual ‘implementou’ um sistema para ensino à distância durante o período de isolamento social. Nosso objetivo com essa postagem não é discutir o projeto do governo ou como as demais escolas do país tem se adaptado à modalidade EaD. A proposta é apresentar algumas questões essenciais e propor algumas boas práticas que podem ser úteis a professores, alunos, pais ou responsáveis.

EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA NÃO É ALGO NOVO

Algumas pessoas ainda devem lembrar do Instituto Universal Brasileiro, que oferecia cursos por correspondências desde a década de 40. Esta é uma das primeiras instituições que ofereceram formalmente a possibilidade de educação à distância. Informalmente, desde o início do século já era possível encontrar informações sobre cursos por correspondência.

Desde então, a tecnologia evoluiu e os cursos à distância já podem ser feitos em plataformas online, chamadas de Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA), que dispõem de infinitas possibilidades de interação: sejam elas assíncronas ou síncronas.

INTERAÇÃO E APRENDIZAGEM

A interação é considerada assíncrona quando o professor efetua uma postagem (seja uma aula gravada, um vídeo, um podcast, um texto, etc.) e os alunos podem acessar e responder durante um determinado período de tempo. Posteriormente, o aluno realiza a atividade (ou deixa uma mensagem) que poderá ser acessada pelo professor ou pelo tutor (é o caso dos fóruns, dos questionários, das atividades de envio de arquivo, das wikis, entre outros). Já no caso da comunicação síncrona, todos interagem ao mesmo tempo, ao vivo. É o caso das aulas transmitidas ao vivo, das webconferências e dos chats.

E por que é tão importante entender isso? Porque boa parte das pessoas acredita que a aprendizagem acontece APENAS no momento das aulas. Consequentemente, grande parte dos alunos não são incentivados a realizar as atividades fundamentais ao desenvolvimento intelectual, mas que ocorrem fora do período escolar (revisões, atividades extras, leituras e as tarefas, por exemplo).

Aliás, as tarefas escolares – assim como as atividades de organização – são tratadas como ‘punitivas’ ou como um meio para se atingir um fim: “você só pode jogar videogame quando terminar o dever” ou “se você não organizar seu quarto, vai ficar sem sobremesa”. O resultado também aparece em algumas das frases mais comuns que escutamos: “meu filho não gosta de estudar” ou “não sei mais o que fazer com meu filho, ele é um bagunceiro”.

E é aí que essa EaD forçada coloca pais e professores de frente com um dos grandes problemas da educação formal: ela precisa ser adaptada aos alunos deste século. Alunos que já nascem com um tablet na mão e que, antes de aprender a falar, já sabem instalar e utilizar um aplicativo no celular. Mas, em contrapartida, ela também precisa ser acessível àqueles que sequer tem acesso às necessidades básicas (alimentação, higiene, segurança). Essa é uma questão que não será resolvida tão cedo ou de uma forma simples; ainda mais no meio desta situação atípica que estamos vivendo.

A EAD PODE SER ÓTIMA, MAS NÃO VAI RESOLVER O PROBLEMA DA EDUCAÇÃO

Por isso, temos que entender que a EaD não vai resolver o problema da educação. Ela é uma possibilidade que pode ser considerada e adotada; porém, para que seja efetiva é necessário que exista toda uma estrutura por trás. Isso inclui profissionais capacitados para atuar nesta modalidade, também material didático adaptado (pois, para compor o material é preciso entender como o aluno irá interpretá-lo, considerando suas vivências pessoais, os aspectos sociais, a comunidade que está inserido), também ambientes virtuais bem elaborados (intuitivos e de fácil acesso), inclui ainda a necessidade de espaços para elaboração e gravação de materiais (estúdios, espaços para webconferências, por exemplo), além – é claro – de uma equipe técnica preparada para atender professores, tutores, alunos e demais pessoas envolvidas no processo.

NO CONTEXTO ATUAL, EMPATIA É FUNDAMENTAL

Por tudo isso, considero que o ponto fundamental para quem está tendo que lidar com a EaD nesse momento seja EMPATIA:

Se você é aluno ou mãe/pai, entenda que a grande maioria dos professores não está capacitado para atuar nesta modalidade. Mesmo que seja um ótimo profissional – com boa capacidade didática – ainda assim está sofrendo, tentando se adaptar a este novo ambiente. Sendo que alguns sequer tem familiaridade com este tipo de tecnologia ou mesmo tem estrutura em casa (internet, computador, câmera, tripé, ambiente para gravação, quadro, por exemplo) para ensinar à distância. Some-se ainda o fato de que boa parte desses professores também estão com seus próprios filhos em casa e tendo que cuidar das atividades domésticas, preparação das refeições, etc.

Se você é professor(a), considere que estes pais/alunos estão vivenciando uma situação complexa; a pressão psicológica do momento está fazendo as pessoas ativarem o sistema nervoso simpático 24 horas por dia. Uma boa parte está tentando se adaptar ao home office, tentando dar conta das atividades da casa e dos próprios filhos (assim como você). Alguns sequer sabem como vão colocar comida na mesa.

EAD NÃO É MAIS FÁCIL, É MAIS FLEXÍVEL

Geralmente os alunos que procuram os cursos oferecidos à distância justificam que optaram pelos mesmos por serem mais fáceis. Eu acredito que este é o maior mito da Educação a Distância e, por isso considero o segundo ponto crucial para melhor se adaptar a ela: NÃO, A EAD NÃO É MAIS FÁCIL.

A EaD é mais flexível em relação aos horários – uma vez que o aluno poderá escolher o melhor momento do dia para estudar. Entretanto, para estudar nesta modalidade é fundamental que o aluno desenvolva uma rotina de estudos e que a cumpra. É preciso ler com atenção (assistir e ouvir, também) todos os materiais propostos pelo professor e isso demanda tempo e concentração.

É NECESSÁRIO TER MUITA DISCIPLINA E COMPROMETIMENTO

Isso nos leva ao terceiro ponto: DISCIPLINA é fundamental para estudar à distância. Dizem que para um hábito se enraizar, é necessário que, no mínimo, a pessoa o pratique por 21 dias; depois disso, naturalmente fará parte da sua rotina. Na educação à distância é fundamental que exista essa disciplina. Quem me conhece provavelmente já ouviu a história de um dos meus alunos que, todos os dias, chegava do trabalho e cumpria um ritual: tomava banho, jantava e ia estudar.

Para atuar na EaD como professor ou tutor, a disciplina também é fundamental. É preciso acessar o AVA todos os dias e não apenas verificar as atividades e fóruns. É preciso entender as dúvidas dos alunos e encontrar os pontos em comum para repensar a forma e o meio de apresentação de cada conteúdo. Nem sempre o caminho adotado inicialmente é o melhor, por isso, é fundamental estar sempre atento.

RESPEITO É A BASE DE TUDO

O último ponto que gostaria de abordar é o RESPEITO. Considere que quase todas as partes desta grande engrenagem que é a EaD são pessoas. Professores, tutores e técnicos também são seres vivos e estão passando por toda essa tensão. Respeite que eles não poderão estar disponíveis 24 horas do dia, 7 dias por semana.

Considere também que no AVA não existe apenas um aluno (você ou seu filho): há diversos alunos requisitando auxílio. Por isso, assim como você (ou seu filho) precisa de tempo para realizar a atividade, o professor (ou tutor) também precisará de tempo para analisar e corrigir. O mesmo vale para dúvidas; em alguns casos é necessário contatar a equipe técnica, o que demanda tempo; em outros casos sequer há equipe técnica disponível e, mesmo assim, o professor tenta buscar a informação na tentativa de auxiliar o aluno.

Estas são algumas boas práticas que considero fundamental para iniciar o processo de educação na modalidade à distância. A medida que as atividades vão sendo compartilhadas nos AVA’s, novos pontos tornar-se-ão necessários e, por isso, a comunicação entre as partes (alunos e professores) é fundamental. Desta forma, reforço que manter um ambiente aberto ao diálogo positivo é imprescindível para não inibir nenhuma das partes ou, até mesmo, criar conflitos desnecessários.

Tudo que é novo, que é diferente, assusta. Mas as mudanças podem trazer consigo melhorias que anteriormente acreditávamos ser impossíveis ou impensáveis. Por isso, antes de criticar ou se fechar às novas experiências, tente compreendê-las e – quem sabe – elas poderão te surpreender.

Se, mesmo com todas estas dicas, você ainda não se sente preparado para atuar ou estudar na modalidade à distância, entre em contato. Envie suas dúvidas pelos canais de comunicação que terei prazer em respondê-las.

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Adriana Schatz é Personal Organizer certificada pelo Método Reorganize, especialista em Organização de Mudanças e em Organização Pós-Luto – ambas pela OZ. Formada em Administração pela Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG, encontrou na organização um meio para realizar seu propósito de vida: transformar o mundo em um lugar melhor.

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