Abril começa totalmente diferente de qualquer outro mês que já vivemos. Um mês de incertezas, de preocupações. Mas também um mês de introspecção, de autoconhecimento. Um mês que será repleto de expectativa, esperança e de mudanças.
Mudanças essas que independem da nossa capacidade de lidar ou de querer lidar com elas. Afinal, no meio de todo esse caos atual, uma certeza paira: nada mais poderá ser como antes e que, sequer, será possível ser como antes.
Pensando nisso, nós da Organização por Adriana Schatz estamos iniciando uma série de postagens para falar um pouco sobre mudança de paradigmas na organização pessoal. E que assunto poderia ser melhor para começar que MINIMALISMO?
A grande maioria das pessoas interpreta o minimalismo como “não ter nada”. Isso não é verdade. Quando falamos de minimalismo, estamos falando de um estilo de vida que prega reduzir a utilização de recursos ao necessário; ou seja: ter somente aquilo que precisamos para ter uma vida feliz e confortável.
Por isso, o minimalismo não deveria partir do ponto de vista do que devemos descartar, do que temos que tirar de nossas casas ou de nossas vidas. Ele deve partir da decisão do que realmente é importante, do que queremos manter, do que é útil e do que amamos. Desta forma, para o minimalismo não há ‘números mágicos’ que definem quantas peças de roupas, quantos clipes de papel ou quantas panelas você deve ter. Cada um conhece sua própria rotina e sabe muito bem a quantidade de coisas realmente necessárias para viver.
Para mim, uma frase que clareou meu entendimento sobre o tema foi escrita pela Francine Jay no livro ‘Menos é Mais’:
“A vida é o espaço entre as coisas”
Pergunte-se: Você é feito das coisas que tem? Você pode ser definido por aquilo que possui? A maioria de nós não iria gostar de ser definido pelas pilhas de papéis amontoados no canto do escritório, ou pelos livros não lidos que entulham nossas estantes na expectativa que um dia sobre tempo suficiente para lê-los. E aí é que está: se nós não cultivarmos mais momentos, (sensações, sentimentos) que nossas coisas, provavelmente seremos lembrados apenas por elas. Como aquele tio que tinha uma coleção de selos, que – depois do tempo considerado ‘politicamente correto’ – será jogada fora pelos sobrinhos. Ou aquela mãe que guardou todo enxoval para utilizar ‘em um dia especial’ e que – quando os filhos foram verificar – já estava amarelado e corroído. Você quer ser lembrado como a pessoa que possuía tantas coisas, mas que não aproveitava nem metade delas?
Não, a vida não se limita ao que adquirimos. Parafraseando a Francine, a vida acontece no espaço entre as coisas. E, a despeito de considerarmos que só seremos felizes com aquele recém lançado modelo de celular ou que só estaremos completos quando conseguirmos comprar aquele par de sapatos novos, o fato é que nós não queremos ser aquilo que possuímos; e não somos. Não é um jogo de panelas antiaderentes que te tornarão uma chef de cozinha. Não é o melhor videogame do mercado que tornará o tempo que você passa com seu filho em um tempo de qualidade.
Pensar de forma minimalista, também é um exercício de pensar sobre si mesmo. Para manter apenas aquilo que é útil e que você ama, primeiro você precisa se conhecer. Nós não temos esse hábito. Geralmente compramos as coisas pelo seu potencial, pelo que elas são na prateleira. Mas esquecemos que precisamos adquirir um objeto pelo que eles podem vir a ser para nós.
Em tempos de crise, pensar de maneira minimalista nos faz refletir sobre gastos desnecessários, sobre acúmulo de tranqueiras. Deveríamos também refletir sobre atividades em demasia, sobre compromissos que não damos conta. Essa quantidade de possibilidades parece enuviar a necessidade de escolhas, e aí acreditamos que podemos dar conta de tudo: leituras, séries, atividades físicas diversificadas, trabalho, mais trabalho, cursos para desenvolvimento pessoal, mais cursos para aperfeiçoamento, hobbies, yoga, meditação….. a lista não termina.
Então porque não enxergar o minimalismo como uma quebra de paradigma da nossa forma de pensar? De ver o mundo? É possível que, se não estivéssemos inscritos em tantas atividades, teríamos tempo para nos dedicar àquilo que realmente importa? Será que closets abarrotados de peças que nunca usamos fazem realmente diferença na nossa existência? Ou talvez se nós mantivéssemos apenas as peças que amamos e utilizamos, será que conseguiríamos ter espaço também para o novo? Novas peças, novas experiências, novas vivências….
Uma nova forma de se viver surge no horizonte. O trabalho dentro de ambientes corporativos será repensado, as relações de trabalho já estão mudando, os meios de aprendizagem serão revistos e, até mesmo, a forma como consumimos vem mudando e provavelmente mudará ainda mais. Não há mais espaço para os velhos paradigmas de consumo (afinal, nossos armários e gavetas estão abarrotados deles!). Por isso, e como última pergunta que deixamos para vocês, precisamos refletir: quem é a pessoa que você quer ser quando tudo isso terminar?